sábado, 16 de abril de 2011

Pelasgo, eu?

Konstantin estava a brincar com um amigo quando encontrou a placa. Era pequena, muito pequena. Tinha a cor do barro, mas a criança sabia que não era esse o material. Não que soubesse qual era, mas tinha a certeza de que o pedaço decorado com inscrições rústicas não era de barro.

- Konstantin, que estás a fazer? - perguntou-lhe o seu amigo Georgios, - Que é isso que tens na mão?

- Não sei. Estava aqui no meio da terra, dei-lhe um pontapé sem querer. Tem umas coisas escritas, mas não sei em que língua.

- Deixa-me ver.

Konstantin entregou o objecto a Georgios, que olhou para ele atentamente. Os seus olhos irradiavam curiosidade, mas pairava neles, com cada vez mais força, algo de obscuro.

- Eu sei o que é isto! O meu avô tem várias placas parecidas com estas lá em casa. Diz que são do trisavô dele, que morreu há muito tempo. Mas ele não gosta muito de falar nisso...

- Porquê?

- Não sei muito bem. Acho que tem vergonha: uma vez, a minha avó acusou-o de vir de uma família de bárbaros. Parece que eram pelasgos e sabes como eles eram terríveis. Se não fôssemos nós, os Gregos, o Peloponeso ainda estava parado no tempo.

- Tens razão... Mas espera aí! Se ele descende de pelasgos e tu descendes dele, então também és um pelasgo. Mas tu não és mau... Eu gosto muito de brincar contigo... Não podes ser impuro!

Ficaram em silêncio durante largos minutos. Georgios estava confuso. Sabia que nenhum pelasgo prestava, e não achava que fosse uma criança má, mas sabia que Konstantin tinha razão. Se o seu trisavô fora um pelasgo, então ele também era.

- Konstantin, já não és meu amigo? Não vais brincar mais comigo? - perguntou, com os olhos marejados.

Não teve uma resposta imediata. O amigo também estava confuso. Afinal, ele era filho de um príncipe, não podia dar-se com um mero pelasgo. Mas gostava tanto de brincar com Georgios... Desde pequenos que todas as tardes brincavam juntos. Na escola eram inseparáveis. Ele era tão boa pessoa. Importaria assim tanto que ele fosse um pelasgo? Sabia que os pais nunca aceitariam que fossem amigos se soubessem a origem de Georgios. A resposta saiu-lhe de supetão:

- Claro que vou! Sou teu amigo! Este vai ser o nosso pequeno segredo. Ninguém tem de saber que descendes de pelasgos, ora essa. Somos os dois gregos e pronto! E somos amigos!

Georgios sorriu, irradiando alegria. Nunca duvidara do poder de uma amizade sincera.