terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Indicador Timbrado

Estava com saudades. Apaixonara-se na primeira vez que se tocaram. Fora uma sensação única... e inesquecível. Todas as suas entranhas ganharam uma nova côr, toda a sua pele experimentou uma nova textura. Ficara sem palavras. A vontade própria abandonara-o. Deixara-se guiar, sem saber o sofrimento que daí adviria. Pela primeira vez na vida, tivera de a partilhar. E conhecia-a há tão pouco tempo. Mesmo assim ainda fora capaz de aproveitar o que sobrara. Deixara-se acarinhar, deliciara-se.

Até o toalhete chegar e levar tudo. Tudo. Até à última pinta, fazendo-o pensar que tudo se fora, para sempre. Sofreu durante dias. Talvez semanas. Ou até anos. Foi difícil. Já perdera a esperança quando voltou a reencontrá-la. As emoções invadiram-no novo. Desta vez, sabia que não seria eterno. Mas esqueceu-se disso e aproveitou. Foram dos melhores minutos da sua vida. Até o toalhete voltar e arrancá-la de si outra vez. Voltou a sofrer, embora a esperança lhe tenha mantido o fogo aceso.

Houve uma terceira, quarta, quinta, sexta vez. Esta seria a sétima vez que se encontravam. Assim esperava, pelo menos. O topo do corpo que tocava com frequência falara num tal de CC que substituiria o BI. Tinha medo de que já não o mergulhassem na tinta. Muito medo. Como conseguiria viver sem aquelas deliciosas partículas negras que o papel sempre roubava?

Naquele dia, teve dificuldades em controlar-se. Era o dia do veredicto final. Iria ou não reencontrar, mais uma vez, o amor da sua vida? Chegado à secretária procurou o instrumento do costume. Não o encontrou. Começou a assustar-se. Algo estava errado. Em cima da mesa, estava o que nunca estivera. Algo que nunca vira. A senhora pegou nele e encostou ao que quer que aquilo fosse. Não sentiu nada de especial. A não ser dor. A partir daquele dia, não mais escorreu tinta pelos seus poros.

5 comentários:

Marco Mateus disse...

Tu escreves muito bem, rapariga! Quem diria que uma moça tão calada e discreta, tão "low profile" fosse uma autêntica maga da escrita.
De facto (não me obriguem a escrever fato, please!), diz-se que os melhores perfumes vêm em embalagens pequenas.
Bjocas e continua, pois tens talento imenso.

Marco M.

Di disse...

nini. wth? =O
oh well... :)

Alpista descendente disse...

Também sou a favor de mergulhar o dedo em tinta! Uma pessoa tem de se sujar de vez em quando.
Gostei da história nini, embora o personagem principal deva ter sérios problemas de auto estima, que fica nervoso só por tocar no dedo de um bonito rabo de saias :<

Kath disse...

Eu ao início pensei que era sobre a textura do papel que queria ser levado para casa, mas também ficou bonito assim. xD

Inês disse...

:D Obrigada, mestre!

E é bom ver que consegui o que queria, que não se percebesse desde logo do que estava a falar ^^