domingo, 6 de março de 2011

Dom Cucu

Sabes o que é intolerável? Ser preso sem ter culpa.
Hoje estou reduzido a um coto no braço direito. E se estou vivo foi porque a raiva que sentia assim o quis. Durante anos pensei que eles não me podiam fazer aquilo, até que chegou o dia em que decidi por cobro à morte lenta a que me obrigaram.
Sabes aquele cubículo cinzentão onde eu vivia? ... claro que sabes, a prisão estava cheia desses cubículos não estava? Espera não abras a boca, não precisas de me responder porque sei que a tua resposta sairá superficial a este ponto. A verdade é que viver num quadrado cinzento é bastante solitário. Tens de ficar louco e imaginar outros mundos se não estás feito, padeces por dentro.
Mas sabes onde falharam? nas paredes argilosas! poupavam nas paredes para encher esses belos bandulhos, imagino. E tornaste-te num magnífico cagamerdeiras que nem repara que vosso vassalo Dom Cucu, que agora se apresenta à majestade de surpresa, estava a desgastar o próprio punho para ir cavando a parede aos bocadinhos.
Não me faças essa cara, é o que ouviste: todos os dias, na fracção de parede oculta pela cama, esfregava ininterruptamente o dedo indicador até a unha cair e o osso ficar a descoberto. Depois foi a vez do polegar e no fim já era a mão toda. Nos momentos em que desmaiava sonhava com a tua morte. E quando estava acordado planeava-a.
Agora, como se costuma dizer, chegou o momento.
Ao meu querido amigo Senhor Chefe Prisional da Puta-que-te-Pariu e que ao Inferno te irá tomar, recebei de meu humilde coto a salvação com cheiro a pólvora que acalmará vosso pestilento cheiro.

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